30/07/2021
Rickard Schäfer é sueco e atua, há 20 anos, no Brasil e na América Latina, como executivo, passando por diversas multinacionais, como a General Electric, Innio e Metso. Desde maio de 2021, Rickard é o diretor-geral do Grupo Asja Brasil, holding composta por um consórcio de seis empresas. Pós-graduado, pelo KTH Royal Institute of Technology – Instituto Real de Tecnologia de Estocolmo, e graduado, em Engenharia Mecânica, pela Mid Sweden University – Universidade Sueca Mid, Schäfer possui mais de uma década de experiência no setor de gás e biogás. Ele é, também, cofundador e conselheiro da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), e integrou os conselhos de energia da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) e empresas privadas. Em entrevista ao Italia Affari, Rickard contou sobre o avanço do biogás, no Brasil, e os desafios a serem superados, pelo setor.
1 – Como está o avanço no uso de fontes de energia a partir do gás no Brasil?
Segundo o estudo “Panorama do Biogás no Brasil 2020”, desenvolvido pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (Cibiogás), o crescimento do setor de bioenergia segue de maneira ascendente, em tendência de alta exponencial, quando analisada a quantidade de plantas levantadas. O número de plantas, em operação entre 2019 e 2020, apresentou um crescimento anual de 22%. Assim, como a quantidade de plantas, o volume de biogás, produzido para fins energéticos, aumentou, expressivamente, nos últimos anos. De 2015 a 2019, o crescimento médio foi de 20% ao ano e, de 2019 a 2020, o índice de crescimento atingiu 23%.
2 – Em sua avaliação, como o biogás pode aumentar sua participação na composição da matriz energética nacional, tendo em vista ajudar o Brasil a se proteger de possíveis crises energéticas, provocadas, principalmente, por longos períodos de seca?
A geração de energia, por biogás, pode ser feita por meio de resíduos da agroindústria e saneamento. Sendo o Brasil um país de vocação agropecuária e que, ainda, não destina, corretamente, todos os seus resíduos (água, esgoto e lixo), o biogás apresenta, portanto, um enorme potencial de crescimento no País. A sua participação na matriz energética tende a aumentar à medida que estes setores crescem e a Política Nacional dos Resíduos Sólidos é implementada pelos municípios.
A produção do biogás é uma solução energética que pode impactar muitas áreas ambientais e econômicas. Por exemplo, a produção nos aterros sanitários tem um enorme potencial para a economia dos municípios, pois é uma fonte de energia que possibilita, a uma prefeitura, desenvolver soluções de cidades inteligentes, reduzindo os custos com eletricidade e/ou, até mesmo, produzindo o biometano, para abastecer as próprias frotas de veículos, como ônibus ou caminhões. Além disso, é possível injetar o gás de biometano na rede de gás, o que aumenta a vida útil dos aterros. A aplicação do biogás pode ser uma solução para resolver vários desafios ambientais, econômicos e de ordem sanitária de uma cidade.
3 – Quais os desafios que precisam ser vencidos para aumentar a produção de energia por meio do biogás?
O biogás possui características únicas dentre as fontes de energia renovável, devido à sua geração limpa, contínua, despachável e armazenável. É preciso que o setor faça a sociedade conhecer os benefícios do biogás e que as instituições passem a valorizar melhor os seus benefícios ao sistema elétrico, à sociedade e ao meio ambiente.
4 – Nos próximos anos, a produção de biogás tende a crescer mais nas aéreas urbanas ou rurais?
Hoje, o potencial de geração de energia do Brasil não está mais concentrado próximo aos grandes centros urbanos, como antigamente, e, com o biogás, não é diferente. Ainda temos um grande potencial de expansão, em geração de biogás, por meio dos aterros sanitários, mas o maior potencial é a partir vinhaça – composto químico líquido que surge através do processo industrial que transforma a cana-de-açúcar em álcool – e da torta de filtro – subproduto composto da mistura de bagaço moído e lodo da decantação do caldo da cana-de-açúcar – da indústria sucroalcooleira e de setor de agropecuária. O potencial do biogás, no Brasil, corresponde a mais de duas vezes o volume médio de gás natural, importado da Bolívia, em 2019 e, conforme levantamentos feitos no setor, temos mais do que 80 bilhões de m³/ano de potencial de biogás, com diferentes fontes de biomassa no País.
5 – Quais são as metas ou desafios a serem superados em sua gestão? Como será a atuação da Asja no mercado nacional?
A Asja Brasil domina toda a cadeia produtiva do biogás, da extração, implementação e operação de usinas à comercialização de energia elétrica ou biometano. Estamos, hoje, ocupando uma posição estratégica no setor, no Brasil, e nossa atuação está concentrada nos aterros sanitários das regiões Sudeste e Nordeste. Nós estamos em uma forte expansão das nossas operações, no mercado nacional, e vamos continuar a reforçar nossa presença, nesse segmento, por meio da expansão para outras regiões brasileiras.