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Entrevista: Mauro Borges, diretor-presidente da Cemig

Executivo com larga experiência no setor público, privado e acadêmico, o economista mineiro Mauro Borges, em sua carreira, atuou como presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), diretor e membro do Conselho de Administração do BNDES e foi Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Doutor em Economia pela Universidade de Londres, na Inglaterra, com pós-doutorado na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, e na Universidade de Paris, na França, Mauro Borges contou, em entrevista à Câmara Ítalo-Brasileira, sobre os desafios da inovação à frente da Cemig.

1 – Por meio do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), a Cemig busca novas tecnologias e alternativas que promovam melhorias no sistema elétrico. Em sua visão, de que modo a inovação efetiva-se com um fator estratégico para a companhia e um caminho a ser trilhado?

O atual modo de vida da sociedade é bastante dependente do uso da energia. Quando se olha para o futuro, são muitas as questões pelas quais serão exigidos esforços e reflexões em busca de soluções: mobilidade, envelhecimento da população, consumo, resíduos. Para todos os assuntos, a energia – fonte, processos de transformação e uso final – se apresenta como um elemento essencial.

Um dos grandes desafios da sociedade atual é a questão do aquecimento global, devido à emissão de gases de efeito estufa associada à escassez de recursos naturais.  Nessa circunstância, a tecnologia torna-se um importante pilar para a construção de um futuro sustentável, tendo ela um papel de destaque na modificação do quadro estabelecido.

Não há dúvidas de que o desenvolvimento científico e tecnológico é capaz de criar novos mercados e também tornar outros obsoletos. A tecnologia alia o conhecimento à experiência, associa a descoberta científica à invenção experimental. Entretanto, a novidade somente se materializa por meio do processo de inovação. Inovar é ir além das ideias e da simples criação. Somente assim se fecha o ciclo da Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D).

Inovar em um mundo dinâmico e globalizado, seja pelo desenvolvimento de produtos, seja pela busca do novo, não é uma opção e sim uma obrigação, pois a todo instante surgem novos métodos, teorias, inventos, que modificam sensivelmente o ambiente dos negócios. É interessante perceber que tais modificações trazem consigo também oportunidades.

O Programa de Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (P&D) tem por finalidade ser uma ferramenta para tornar as concessionárias de energia elétrica mais competitivas. Os reflexos para a sociedade são evidenciados, por exemplo, nas formas de modicidade tarifária, novos serviços e equipamentos.

Há que se destacar que os benefícios desses projetos vão além do desenvolvimento de uma tecnologia, enunciando, também, a formação de recursos humanos com alta especialização e o incentivo à pesquisa, essenciais para o desenvolvimento científico da nação. Não podemos nos esquecer do fomento à indústria, necessário ao desenvolvimento tecnológico, da publicação e da divulgação científica e dos ganhos socioambientais decorrentes.

Uma estratégia essencial de sobrevivência para qualquer empresa está centrada em duas vertentes: eficiência operacional e desenvolvimento de novos negócios. A atual visão da Cemig é conhecida: “Consolidar-se, nesta década, como o maior grupo do setor elétrico nacional em valor de mercado, com presença em gás, líder mundial em sustentabilidade, admirado pelo cliente e reconhecido pela solidez e performance”.

O Programa de P&D da Cemig é aderente e cumpre com a busca de elementos como a eficiência operacional. Contando com mais de 600 projetos em sua história, a Companhia atua no ambiente de negócios de modo a contribuir para a construção da sociedade do futuro com sustentabilidade.

A inovação não é algo estanque, limitada a projetos. Ao longo da história da Cemig foram muitos os exemplos que indicam a vanguarda da Empresa e o seu espírito inovador: a construção de grandes barragens (até mesmo desenvolvendo a própria engenharia), a primeira usina eólio-elétrica conectada ao sistema elétrico brasileiro na década de 1990, dentre outras iniciativas.

2 – A Cemig acaba de ser anunciada como um dos vencedores do Prêmio Mineiro de Inovação, na categoria Intangível, com o projeto “Monitoramento ambiental utilizando imagens reais das áreas cobertas por linhas de transmissão e reconhecimento de padrões”. Como o senhor avalia esse importante resultado e as contribuições que o projeto oferece?

A parceria entre entidades e pessoas é a melhor solução para vencer diversas restrições impostas à sociedade moderna, das mais instransponíveis às mais triviais. É uma honra para a Cemig ter proposto e executado um projeto de P&D, de ganho intangível, que estabelece uma parceria perfeita entre empresa e sociedade por meio da internet, a fim de se combater um grave problema, que é a detecção e localização com bastante antecedência de focos de fumaça e fogo nos variados incêndios.

A maior contribuição desse projeto é atestar que, de fato, a sociedade moderna está motivada e apta a colaborar nos diversos problemas que as empresas e entidades possuem e a internet, por sua vez, mostrou como essa parceria pode ser benéfica para todos nós.

3 – Qual o caminho que deve ser seguido para que, futuramente, diversifiquemos a produção energética, utilizando, em maior quantidade, fontes renováveis, como a eólica, solar, biomassa, entre outras? Como tem sido o trabalho da Cemig neste sentido?

É fundamental uma política de estímulos que aumente a participação das fontes renováveis na Matriz Energética Brasileira. A título de exemplo, cito o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), adotado pelo Ministério de Minas e Energia. Assim como a energia eólica conseguiu estabelecer uma cadeia produtiva no Brasil, outras fontes podem, se corretamente incentivadas, apresentar resultados notáveis.

A Companhia Energética de Minas Gerais tem investido em pesquisas utilizando fontes alternativas, em especial a energia solar fotovoltaica. O Mineirão, maior estádio solar do mundo, é capaz de gerar 1.418,40 kW de potência. O primeiro projeto de P&D da Aneel, valendo-se de fontes renováveis de energia e armazenamento conectado à rede, é explorado no Estádio Joaquim Henrique Nogueira, conhecido como Arena do Jacaré, em Sete Lagoas. Outro projeto igualmente importante é o Settesolar, usina com capacidade de 3 MWp de potência, unidade suficiente para abastecer até 3 mil residências.

4 – Algumas empresas promovem soluções autorais para a geração de energia, que, sob a ótica econômica e ambiental, são extremamente válidas. Como a empresa enxerga e se envolve nesse tipo de iniciativa?

A Companhia Energética de Minas Gerais vem investindo em projetos de P&D sob essa ótica. No passado, antes da resolução da Aneel possibilitar esse tipo de execução, já desenvolvíamos pesquisas sobre sistemas de geração de energia solar conectados à rede.

A Companhia investiu na purificação do silício para produção de células solares em parceria com a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec). O nosso estado é o que mais produz e exporta esse elemento, fundamental para a fabricação de itens variados, que englobam desde o silicone a componentes eletrônicos que nos são indispensáveis.

Empreendimentos como os citados demonstram o como a Cemig tem se preocupado e se empenhado em estimular iniciativas de diversificação das soluções de geração de energia.

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